José Gregório de Figueiredo Mascarenhas
A 19 de Janeiro de 1900, tomava posse como deputado, pelo círculo de Silves, José Gregório de Figueiredo Mascarenhas (1843-1904). Refira-se que os círculos eleitorais foram variando ao longo do tempo, sendo que Silves correspondia na época a um círculo eleitoral (presentemente o círculo de Faro engloba todo o distrito).
O deputado José Gregório não era propriamente um novato naquelas lides, havia 20 anos que defendia, na Câmara dos Deputados, os interesses de Silves e do Algarve. Militar, pertencia à arma de artilharia, atingindo o posto de general de divisão em 1901. Comendador da Ordem de Avis, foi comandante da Escola Prática de Artilharia e diretor da Fábrica de Pólvora.
Natural de Silves, onde nasceu a 7/5/1843, filho de João Gregório de Figueiredo Mascarenhas e de D. Maria Mascarenhas, neto paterno do major José Gregório de Figueiredo Mascarenhas e de D. Catarina Jacinta Duarte Machado, de S. B. de Messines e materno do coronel Diogo João Mascarenhas Neto e de D. Maria Perpétua Águas, de Algoz.
Militou no partido Regenerador e posteriormente no Regenerador-Liberal, tendo sido eleito deputado pela primeira vez em 1879 e consecutivamente nos anos seguintes.
A sua ação foi multifacetada sempre na defesa dos interesses da região e do país. Uma das preocupações centrou-se nas acessibilidades ao Algarve: marítimas (na defesa das viagens do barco a vapor entre Lisboa e o Algarve, nos melhoramentos no portos de Portimão, ou na construção de um cais em Ferragudo); terrestres (pugnando pela construção do caminho de ferro, bem como das estradas macadamizadas de acesso ao mesmo). Foi igualmente um deputado ativo na defesa dos empresários de armações de pesca, dos produtores de frutos secos, sem esquecer a indústria do fabrico de rolhas, em Portugal. Pertenceu, ao longo da sua carreira parlamentar, a diferentes comissões e expôs várias representações das autarquias de Silves, Lagoa, Monchique, Vila do Bispo, Lagos, Loulé, entre outras.
A nível eleitoral e no concelho de Silves, com vista à diminuição da abstenção (um problema que não perdeu atualidade) propôs com êxito, em 1882, a divisão da assembleia eleitoral de Alcantarilha, com a criação de uma nova, em Algoz. Lembrando, no projeto de lei, que nesta última localidade passariam a votar os perenses, eliminando assim «a antiga rivalidade entre os povos de Alcantarilha e Pêra», a qual tinha «dado logar a tumultos graves na occasião das eleições, e que muitos eleitores da freguezia de Pera se abstêem de votar pelo receio de serem, insultados e espancados na sede da assembleia [Alcantarilha], como por differentes vezes tem acontecido». Outros tempos em que as eleições exultavam os eleitores mais inflamados e eram momento para desforras.
Em dezembro de 1900 foi nomeado Par do Reino, lugar de que tomou posse em Janeiro seguinte. Na câmara alta das Cortes (existiam duas câmaras, Deputados e Pares do Reino) integrou as comissões da Guerra, Obras Públicas e Marinha. A vasta carreira política tornou-o no político mais influente do Algarve e numa das figuras de destaque no Partido Regenerador Liberal.
A sua morte ocorreu, inesperadamente, em Monchique, a 10/10/1904, onde se encontrava com a família, em visita ao irmão. Ao seu funeral, que decorreu em Silves no dia 12 de Outubro, concorreram, segundo a imprensa da época, mais de 4 000 pessoas, de todas as condições sociais e diferentes cores políticas, que se incorporaram no cortejo fúnebre, entre a Sé e o cemitério. Na véspera, aquando a chegada do féretro, a ele acorreu toda a população da cidade e centenas de habitantes dos concelhos vizinhos. Ainda em Monchique foram estimadas em 3 000 pessoas aquelas que se incorporaram no séquito até à saída da vila. Sendo o ataúde acompanhado até Silves por mais de 20 trens e carrinhas. O rei D. Carlos enviou nesse dia um telegrama ao irmão do finado apresentando as suas condolências.
As Câmaras de Loulé, Albufeira e Lagos, entre outras, fizeram-se representar no funeral, tal como o governo. Em Lisboa as duas câmaras legislativas, dos Deputados e dos Pares do Reino, consignaram em ata um voto de pesar pela sua morte.
Também a Câmara de Silves deliberou por unanimidade, no dia 13 de Outubro, lançar em ata «um voto de profundo sentimento pela perda d’este prestante cidadão», lembrando que o mesmo constituía «uma das mais distinctas figuras do exercito e da politica portuguesa. Tanto no exercito como na política, onde sempre se assignalou pela nobresa do seu carácter sem macula, foi sempre respeitado e considerado pelos seus camaradas, pelos seus amigos e até pelos seus adversários, que lhe tributavam o maior respeito e sympathia». Lembrava ainda «que pugnou sempre pela terra que lhe foi berço e em geral por todo o Algarve (…) collaborando em todos os melhoramentos que ahi se effectuaram tendentes a engradecer a sua província natal».
Na verdade, toda a imprensa, e não só a afecta ao partido em que militava, foi unânime nos elogios àquele que constituiu seguramente um dos silvenses mais relevantes da segunda metade do século XIX.
Aos novos deputados, a eleger no próximo dia 30 de Janeiro, desejamos felicidades e que saibam pugnar com seriedade, firmeza e dedicação os interesses da região e do país, como o fez José Gregório de Figueiredo Mascarenhas há mais de 140 anos.
Texto de Aurélio Cabrita
Publicado no Jornal Terra Ruiva, Dezembro de 2021
(Com a devida autorização de publicação)